RIO - O empenho com que o grupo italiano Techint — dono da Ternium — tem se engajado na briga com os sócios japoneses da Nippon Steel pelo controle da Usiminas vai além do desejo de comandar uma das maiores siderúrgicas brasileiras. A Usiminas é a principal fornecedora nacional de chapas de aço para outra empresa do conglomerado, a Tenaris, maior fabricante de tubos de aço no mundo e que adquiriu a brasileira Confab em 1993. Assegurar o fornecimento de matéria-prima a preços competitivos é um ponto relevante na estratégia do grupo.
Essa é uma das razões, segundo fontes, que explicam por que os italianos estariam dispostos a dividir a Usiminas em duas e ficar com a unidade de Cubatão, na Baixada Santista. As conversas para uma possível divisão de ativos já duram cerca de um ano e vêm amadurecendo nas últimas semanas nos corredores da Ternium. A empresa resultante da partilha já teria até nome: Ternium Cubatão.
CONSOLIDAR PRESENÇA NA AMÉRICA LATINA
Caso a divisão de fato ocorra, a Ternium poderia religar os dois altos-fornos de Cubatão no período de um ano, segundo fontes a par das discussões. A Usiminas tem duas unidades produtoras de aço: Ipatinga (MG) e Cubatão. Nesta última, a companhia demitiu quase duas mil pessoas só este ano e paralisou os altos-fornos, para se adequar à queda na demanda. Apenas o laminador, etapa posterior à produção de aço, está funcionando.
A unidade tem ainda um terminal portuário, pelo qual a Ternium poderia alcançar o mercado externo. Comprar Cubatão também faria sentido na estratégia global do grupo, porque seria uma forma de manter sua presença no Brasil, país que considera fundamental para sua consolidação na América Latina. A Ternium também está presente em México, Argentina, Colômbia, países da América Central e Estados Unidos.
A ítalo-argentina Ternium entrou na Usiminas em 2012, ao comprar as fatias de Camargo Corrêa e Votorantim. Hoje, a empresa tem 27,66% das ações ordinárias da empresa e divide o bloco de controle com a Nippon Steel (com 29,45%) e a Previdência Usiminas (6,75%). Pagou R$ 3 bilhões pelas ações. No balanço financeiro de 2015 da Techint, a fatia na siderúrgica brasileira é avaliada em US$ 276 milhões.
Para estancar as perdas com os ativos, os sócios italianos buscam uma solução rápida. Em carta enviada ao governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), este mês, o presidente mundial da Techint, Paolo Rocca, disse que os acionistas deveriam considerar todas as alternativas possíveis para salvar a empresa, incluindo “a venda de suas participações ou a separação de ativos e unidades de produção”.
Segundo fontes, o interesse do grupo seria adquirir a fatia da Nippon, mas os executivos italianos estariam convencidos de que os japoneses não abrirão mão da unidade de Ipatinga, berço da Usiminas.
— As relações entre Usiminas e Nippon remontam aos anos 50, são parceiros históricos. Além disso, a Usiminas compra muitos equipamentos japoneses e tem um contrato de transferência de tecnologia com a Nippon. É uma relação importante para as duas empresas — disse uma fonte com trânsito entre os japoneses.
Procurada, a Ternium disse que “quer uma solução rápida para o conflito da Usiminas, já que a empresa apresenta um desempenho operacional fraco”. A siderúrgica teve prejuízo recorde em 2015 e depende do aporte bilionário de acionistas, que ainda tem de ser votado em assembleia em 18 de abril, para evitar a recuperação judicial. A Nippon não retornou as ligações do GLOBO, e a Usiminas preferiu não fazer comentários.
CONFLITO CHEGA A MINISTÉRIOS
A briga entre os dois sócios começou em setembro de 2014, quando executivos da Ternium foram afastados da Usiminas, acusados de receberem bônus irregularmente. De lá para cá, Rocca já se encontrou com executivos da Nippon oito vezes para tentar pôr fim ao imbróglio.
Mas o assunto já deixou de ser tratado apenas entre entes privados. Além da interferência direta do governador de Minas Gerais, que chegou a enviar carta aos dois executivos cobrando uma solução, o tema chegou ao primeiro escalão do governo brasileiro.
O presidente da Ternium no Brasil, Paolo Bassetti, encontrou-se pessoalmente com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Armando Monteiro. O Ministério de Relações Exteriores também acompanha o conflito, já que envolve relações bilaterais com Itália e Japão.